sábado, 3 de novembro de 2012

Resenha do filme "E Seu Nome é Jonas".

*Patrícia Flores Freitas.
A obra fílmica “E seu nome é Jonas” foi produzida nos EUA no ano de 1979, relata a história de um menino erroneamente diagnosticado com retardo mental, quando na verdade era uma criança surda que possuía sua capacidade cognitiva preservada, mas que deveria ser estimulada e para tal precisava adquirir uma linguagem.
Quando descobre o verdadeiro diagnóstico de Jonas, a família o retira da instituição para deficientes mentais em que foi internado e o leva para casa, mas não sabe como lidar com o garoto. Na cena em que Jonas é reapresentado ao resto da família o áudio é suprimido, dando ao público a percepção de forma interativa de como um surdo se sente entre pessoas ouvintes, pois mesmo os surdos que fazem leitura labial ou que usam aparelho não compreenderiam plenamente a fala de várias pessoas ao mesmo tempo e se sentiriam confusos.
Ao buscar uma escola para surdos a mãe de Jonas é orientada a não permitir que ele use gestos para se comunicar, mesmo em casa com a família, com a justificativa de que ele não teria disposição para aprender a falar e a fazer a leitura orofacial se pudesse se comunicar com as mãos. Essa é uma ilustração do pensamento oralista que não admite o uso da língua de sinais por entender que o surdo deve se inserir no mundo ouvinte através da leitura orofacial, terapia de fala, uso de aparelho auditivo e/ ou implante coclear, o que não atende a pessoas com surdez profunda. É pouco eficaz para casos de diagnóstico tardio, além de não estar acessível a todos por serem tratamentos caros e também se configura uma negação de acesso a língua de aptidão natural do surdo.
O preconceito e a falta de orientação sobre a capacidade de interação do menino dificulta a relação da família com a comunidade ouvinte, levando-a a exclusão social o que afeta principalmente ao pai que também não consegue se comunicar com o filho, pois como ele foi tardiamente diagnosticado ainda não adquiriu nenhum meio de se expressar, como também não consegue entender o que lhe está sendo dito e não compreende as regas de convivência de sua família. Também por ter recebido um tratamento assistencialista durante o período em que permaneceu internado, o menino tem dificuldade em lidar com a disciplina imposta pelo pai.
Em seguida, com a morte de seu avô, Jonas demonstra não compreender sua ausência e ao tentar encontrá-lo acaba se perdendo. Nesse momento fica claro que sua relação familiar mais significativa era com o avô que se foi e ele passa a se sentir solitário, pois não está inserido nem numa comunidade ouvinte nem numa comunidade surda. 
Buscando desesperadamente uma forma que lhe permita interagir com seu filho a mãe de Jonas, através da mãe de outra criança surda, descobre que a utilização de sinais é defendida por outras correntes de ensino para surdos e visita um espaço em que surdos interagem através da língua de sinais. De forma espontânea um surdo mostra para ela alguns sinais e ela consegue compreender o que está sendo sinalizado. Esse primeiro contato acontece num clube para surdos, ambiente informal, em que a interação flui naturalmente, sem as pressões e a artificialidade que acontece na terapia da fala e na escola oralista. Entendendo que com a língua de sinais conseguirá se comunicar com o filho, a mãe de Jonas passa a adotar esse método educativo se opondo a orientação da escola.
A cena em que Jonas compreende a relação dos sinais em libras com os seus significados é comovente, pois nesse momento sabemos que ele poderá expressar com autonomia suas vontades, aspirações, afetividade e compreensão sobre conceitos abstratos, como a morte do seu avô. Essa última cena sintetiza a premissa mais fundamental que deve nortear o pensamento em torno da questão da aquisição de linguagem por surdos, “o direto de se expressar na língua materna” como preceitua a Declaração dos Diretos Humanos Linguísticos, mas não só como forma de garantia de direitos, mas por reconhecimento de que a língua de sinais carrega em si o status de língua por possuir sua própria estrutura, por possibilitar aos seus usuários o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, exercer sua identidade cultural e ter acesso pleno ao convívio social, sem imposição da língua oral, para qual não possuem aptidão natural, para serem incluídos na comunidade ouvinte e, portanto a língua de sinais não pode ser entendida como mera gesticulação ou tradução da língua oral.



REFERÊNCIA

E Seu Nome é Jonas. Direção: Rich EUA, 1979.ard Michaels. EUA,1979. 1 DVD (100 min).

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