*Patrícia
Flores Freitas.
A obra fílmica “E seu nome é Jonas” foi produzida nos EUA no ano de 1979, relata a história de um
menino erroneamente diagnosticado com retardo mental, quando na verdade era uma
criança surda que possuía sua capacidade cognitiva preservada, mas que deveria
ser estimulada e para tal precisava adquirir uma linguagem.
Quando descobre o
verdadeiro diagnóstico de Jonas, a família o retira da instituição para
deficientes mentais em que foi internado e o leva para casa, mas não sabe como
lidar com o garoto. Na cena em que Jonas é reapresentado ao resto da família o
áudio é suprimido, dando ao público a percepção de forma interativa de como um
surdo se sente entre pessoas ouvintes, pois mesmo os surdos que fazem leitura
labial ou que usam aparelho não compreenderiam plenamente a fala de várias
pessoas ao mesmo tempo e se sentiriam confusos.
Ao buscar uma escola
para surdos a mãe de Jonas é orientada a não permitir que ele use gestos para
se comunicar, mesmo em casa com a família, com a justificativa de que ele não
teria disposição para aprender a falar e a fazer a leitura orofacial se pudesse
se comunicar com as mãos. Essa é uma ilustração do pensamento oralista que não
admite o uso da língua de sinais por entender que o surdo deve se inserir no
mundo ouvinte através da leitura orofacial, terapia de fala, uso de aparelho
auditivo e/ ou implante coclear, o que não atende a pessoas com surdez profunda. É pouco eficaz para casos de diagnóstico tardio, além de não estar acessível a
todos por serem tratamentos caros e também se configura uma negação de acesso a
língua de aptidão natural do surdo.
O preconceito e a
falta de orientação sobre a capacidade de interação do menino dificulta a relação
da família com a comunidade ouvinte, levando-a a exclusão social o que afeta
principalmente ao pai que também não consegue se comunicar com o filho, pois
como ele foi tardiamente diagnosticado ainda não adquiriu nenhum meio de se expressar,
como também não consegue entender
o que lhe está sendo dito e não compreende
as regas de convivência de sua família. Também por ter recebido um tratamento
assistencialista durante o período em que permaneceu internado, o menino tem
dificuldade em lidar com a disciplina imposta pelo pai.
Em seguida, com a
morte de seu avô, Jonas demonstra não compreender sua ausência e ao tentar
encontrá-lo acaba se perdendo. Nesse momento fica claro que sua relação
familiar mais significativa era com o avô que se foi e ele passa a se sentir
solitário, pois não está inserido nem numa comunidade ouvinte nem numa
comunidade surda.
Buscando desesperadamente uma forma que lhe permita interagir com seu filho a
mãe de Jonas, através da mãe de outra criança surda, descobre que a utilização
de sinais é defendida por outras correntes de ensino para surdos e visita um
espaço em que surdos interagem através da língua de sinais. De forma
espontânea um surdo mostra para ela alguns sinais e ela consegue compreender
o que está sendo sinalizado. Esse primeiro contato acontece num clube para
surdos, ambiente informal, em que a interação flui naturalmente, sem as
pressões e a artificialidade que acontece na terapia da fala e na escola
oralista. Entendendo que com a língua de sinais conseguirá se comunicar com o
filho, a mãe de Jonas passa a adotar esse método educativo se opondo a orientação da escola.
A cena em que Jonas
compreende a relação dos sinais em libras com os seus significados é comovente,
pois nesse momento sabemos que ele poderá expressar com autonomia suas
vontades, aspirações, afetividade e compreensão sobre conceitos abstratos, como
a morte do seu avô. Essa última cena sintetiza a premissa mais fundamental que
deve nortear o pensamento em torno da questão da aquisição de linguagem por
surdos, “o direto de se expressar na língua materna” como preceitua a
Declaração dos Diretos Humanos Linguísticos, mas não só como forma de garantia
de direitos, mas por reconhecimento de que a língua de sinais carrega em si o
status de língua por possuir sua própria estrutura, por possibilitar aos seus
usuários o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, exercer sua
identidade cultural e ter acesso pleno ao convívio social, sem imposição da
língua oral, para qual não possuem aptidão natural, para serem incluídos na
comunidade ouvinte e, portanto a língua de sinais não pode ser entendida como
mera gesticulação ou tradução da língua oral.
REFERÊNCIA
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